Novos rumos da biologia molecular
O Renascimento não proporcionou apenas o desenvolvimento de novas formas de arte. Uma parcela dessas mentes estava envolvida no desenvolvimento de estudos relacionados ao homem e à natureza. Sendo assim um período marcado por um “renascimento científico”, onde vários campos do conhecimento como a astronomia, a matemática, a física e a medicina avançaram.
As pesquisas consistiam no ato de observar, o famoso estudo da causa e efeito, experimentos simples e que tentavam justificar e responder questões da época. Historicamente, essa nova atitude com relação ao mundo estabelecia um grande marco na produção cientifica. Afinal, através da razão, os homens desse tempo rompiam com o monopólio de conhecimento da época e abriam seus olhos.
Hoje podemos estar diante de novas etapas do renascimento cientifico, a pandemia mostrou ao mundo como a ciência e as mentes brilhantes envolvidas em estudos são essências não apenas para o bem-estar, mas para a sobrevivência.
Em outubro de 2020, a ciência deu outro passo rumo ao futuro, reconhecendo duas cientistas, Dra. Jennifer Doudna e Dra. Emmanuelle Charpentier como vencedoras do prêmio Nobel de química, laureadas pelo desenvolvimento de uma técnica de edição de genes chamada CRISPR/Cas9.
Apesar da premiação chegar em 2020, foi em 2012 que o artigo publicado na revista Science, demonstrava que o CRISPR/Cas9, um mecanismo presente no sistema imunológico de bactérias, poderia ser utilizado para editar o DNA humano in vitro.
Após a publicação desses dados em uma revista de grande fator de impacto, laboratórios e indústrias no mundo todo passaram a explorar essa técnica com diferentes aplicações.
Mas o que é CRISPR/Cas9?
O CRISPR/Cas9 (Conjunto de Repetições Palindrômicas Regularmente Espaçadas em associação com a nuclease Cas9) é o nome de uma técnica de biologia molecular que é capaz de editar, ou seja, remover, adicionar, trocar, sequências de DNA localizadas em qualquer região do genoma.
Nessa técnica temos duas moléculas importantes, são elas:
Cas9: uma nuclease, que atua como uma “tesoura”, cortando o DNA na parte indicada.
RNA guia (gRNA): pequena sequência de RNA, que funciona como “guia” para a Cas9 indicando a parte do genoma que deverá ser cortada.
Dessa forma existindo o conhecimento prévio da sequência de DNA que se quer alterar (como, por exemplo, uma mutação que causa uma doença), o nosso guia (gRNA) pode ser ‘fabricado’ para se ligar a essa região específica, guiando a Cas9 para realizar o corte. Logo, o sistema de reparo de DNA intrínseco dos organismos, irá adicionar novos pares de bases a região, consertando assim o genoma. Com esse princípio seria possível reparar, silenciar e reprimir genes, qualquer sequencia genômica.
Uma técnica que representa uma grande esperança da medicina atualmente, aplicável em diversas doenças como câncer, doenças genéticas e doenças infecciosas. Podendo levar ao desenvolvimento de novas terapias. Muitas pesquisas ainda são necessárias para avaliar a eficiência e, principalmente, a segurança de utilizar essa técnica em humanos.
Diversas discussões a respeito do uso dessa técnica em humanos vêm sendo levantadas em toda a comunidade cientifica, pois, a ética do procedimento ainda é questionável e tratada em artigo publicado no canal online da BBC em 2019, quando no ano anterior, um cientista chinês anunciou que duas bebês gêmeas nasceram após os embriões serem geneticamente modificados através da técnica de CRISPR/Cas9. Os embriões tiveram o gene CCR5 editado, para que fossem resistentes ao vírus HIV. O cientista relatou que os bebês nasceram saudáveis e sem nenhuma sequela. Porém, a edição genética de embriões ainda deve ser colocada em pauta: até onde é o limite do ser humano em editar o genoma? O que será considerado doença e será passível de se “consertado” com essa técnica?
Além disso, estudos também demonstraram que o sistema CRISPR/Cas9 não é perfeito e pode errar o alvo, editando outras regiões do genoma. Esse acontecimento é um importante fator limitante do uso in vivo em humanos. Ainda é preciso entender como o sistema atua dentro do nosso organismo e quais as consequências de editar nosso genoma, para nós e para as futuras gerações.
Leia mais artigos autorais da Neobio
- Robôs: Uma nova vida em tempos de tecnologia
- O Sequenciamento de DNA: A (Re) evolução
- Protocolo simples para a utilização da Taq DNA Polimerase Master Mix Red
- Eletroforese em gel de agarose